POR QUE O LEAN MANUFACTURING CONTINUA EM ALTA MESMO APÓS 70 ANOS?
19.08.2025 •
Mesmo em um cenário industrial cada vez mais tecnológico, com big data, inteligência artificial e robôs colaborativos, o Lean Manufacturing — método desenvolvido na década de 1950 no Japão, especialmente pela Toyota — continua sendo um dos pilares da eficiência industrial.
Apesar da idade, seu foco em resolver problemas reais e promover melhorias contínuas ainda é essencial para muitas empresas que enfrentam gargalos básicos de produtividade e desperdício.
Antes da transformação digital, vem o básico bem-feito
O Lean Manufacturing busca, em essência, eliminar desperdícios e aumentar a eficiência operacional por meio de práticas enxutas e melhoria contínua. Embora amplamente difundido, sua aplicação real nas fábricas brasileiras ainda está longe de ser plena.
É comum encontrar empresas que já investem em tecnologias da Indústria 4.0, mas operam com estoques desalinhados, fluxos desorganizados, ausência de padronização ou baixa cultura de resolução de problemas — elementos que o Lean combate diretamente.
Sem corrigir esses pontos, a digitalização tende a ser mais um custo do que uma alavanca de valor.
Como aponta João Rocha, especialista em produtividade industrial, em entrevista ao portal
A Voz da Indústria:
“A eficiência não começa com tecnologia, ela começa com clareza sobre processos, disciplina na execução e foco em valor agregado. Isso é Lean. Só depois vem o digital.”
Por que ainda é tão difícil aplicar o Lean de forma consistente?
Mesmo com décadas de estudos e exemplos de sucesso, muitas empresas ainda enfrentam dificuldades culturais para aplicar o Lean.
Segundo pesquisa da McKinsey, apenas 30% das iniciativas Lean são sustentadas no longo prazo. Alta rotatividade, foco exclusivo em metas financeiras de curto prazo ou baixo incentivo à cultura de melhoria contínua dificultam a adoção de uma mentalidade de resolução sistêmica de problemas.
Além disso, o Lean exige persistência. Não se trata de um projeto pontual, mas de um modelo de gestão que deve permear todas as áreas da empresa, todos os dias.
Lean e Indústria 4.0: concorrentes ou complementares?
Na verdade, não são concorrentes: são complementares. O Lean cria o terreno fértil para que a digitalização funcione. Automatizar um processo cheio de desperdícios é, na prática, tornar o desperdício mais rápido e caro.
Já quando a operação está estruturada com base no pensamento Lean, as tecnologias digitais podem ser aplicadas com mais clareza de propósito, melhor medição de resultados e retorno sobre investimento.
Na prática, o Lean funciona como uma espécie de “checklist” para avaliar se a fábrica está pronta para colher os frutos da transformação digital. Como destaca um estudo da McKinsey:
“Empresas que combinam fundamentos operacionais sólidos com tecnologias digitais alcançam ganhos de eficiência até duas vezes maiores do que aquelas que digitalizam processos desestruturados.”
O básico nunca sai de moda
Mesmo com novas tendências surgindo todos os anos, o Lean continua sendo um dos pilares mais sólidos da gestão industrial. E seguirá em alta porque entrega o que importa: foco no cliente, redução de custos, agilidade e melhoria contínua.
Muitas empresas implementam tecnologias 4.0 sem ter um propósito definido. O Lean não apenas resolve o básico — como gargalos e ineficiências — como também ajuda a dar clareza sobre os objetivos dessas tecnologias. Ele evita que a inovação seja apenas estética.
A questão é: sua empresa está dominando o básico antes de buscar o avançado?
Fonte: VDI
A ARMADILHA DA DESINDUSTRIALIZAÇÃO: POR QUE ABANDONAR A MANUFATURA É UM ERRO ESTRATÉGICO
26.08.2025 •
Nas últimas décadas, o Brasil vem enfrentando um processo silencioso, mas profundo, de desindustrialização. A participação da indústria de transformação no PIB nacional caiu de 25% nos anos 1980 para menos de 11% nos últimos anos, segundo dados da Confederação Nacional da Indústria (CNI).
Esse movimento tem impactos diretos sobre a produtividade, a inovação e a geração de empregos qualificados no país.
Recentemente, um artigo da
The Economist provocou debates ao afirmar que o crescimento de países em desenvolvimento não precisa, necessariamente, passar pela industrialização.
O argumento central é de que os serviços e o consumo interno podem impulsionar o crescimento econômico mesmo em países com base industrial fraca.
No entanto, essa tese ignora um ponto fundamental: os países que mais se desenvolveram nas últimas décadas mantiveram ou fortaleceram sua base manufatureira como núcleo de inovação, produtividade e soberania tecnológica.
A Alemanha é um exemplo emblemático. Apesar de ter uma economia fortemente baseada em serviços, o país nunca abandonou sua indústria — ao contrário, investiu em digitalização, automação e inovação.
O resultado é um setor manufatureiro robusto, conectado com a Indústria 4.0, e resiliente às mudanças de cenário global. O mesmo pode ser dito da Coreia do Sul, que apostou fortemente em tecnologia e manufatura de ponta para alcançar o patamar de país desenvolvido.
Ao tratar a indústria como um fardo ou um estágio superado do desenvolvimento, corremos o risco de comprometer a capacidade do Brasil de gerar empregos qualificados, fomentar a inovação local e reduzir a dependência externa em setores estratégicos.
Isso é particularmente grave em um mundo que caminha para uma nova reorganização produtiva global, em que países buscam mais autonomia tecnológica e cadeias de suprimento mais curtas e seguras.
Além disso, a indústria é o setor que mais contribui para o avanço da produtividade no longo prazo, pois exige investimentos em pesquisa, desenvolvimento, processos e qualificação de mão de obra. Os ganhos de produtividade gerados pela indústria se espalham por toda a economia — inclusive nos serviços.
Portanto, o dilema não é entre indústria e serviços, mas entre dependência e protagonismo. A reindustrialização, apoiada por políticas de inovação, educação técnica e transformação digital, é uma estratégia essencial para que o Brasil ocupe um lugar relevante nas cadeias globais de valor e retome o crescimento sustentável.
Conclusão: desindustrializar é abrir mão do futuro
Desindustrializar não é modernizar — é abrir mão do futuro. A urgência está em enxergar a indústria como parte da solução para os desafios do desenvolvimento e não como um vestígio do passado.
Fonte: VDI
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